A QUEDA
“As Últimas Horas de Hitler”
Abril de 1945. Decidido a ficar em Berlim, Adolf Hitler refugia-se em um bunker, uma espécie de abrigo subterrâneo, localizado sob a Chancelaria instalada no coração da cidade.
Inconformado com o avanço das tropas russas, o líder nazista traça insólitas estratégias de guerra nas linhas de um mapa, conduzindo, com suas trêmulas mãos, imaginários exércitos aos campos de batalha. O führer – líder –, com peculiares arroubos de grandeza, lutava inutilmente contra o fim que se anunciava através das sucessivas derrotas do exército nazista frente ao rolo compressor do Exército Vermelho. O Terceiro Reich foi uma designação nacionalista que evocava o Sacro Império Romano-Germânico fundado por Oton I em 962, e o Segundo Império, de Guilherme I em 1871, com a unificação alemã. E o sonho dele se perpetuar estava prestes a ruir juntamente com os planos de conquista mundial.
Esse é o cenário retratado em A Queda, filme realizado em 2004, baseado nos relatos do livro “Bis Zur Letzten Stunde” (Até a Hora Final: A Última Secretária de Hitler) de Traudl Junge e Melissa Müller, e em “Der Untergang”(No Bunker de Hitler: Os Últimos Dias do Terceiro Reich) de Joachim Fest. O filme provocou controversas opiniões. Isto porque o diretor Oliver Hirschbiegel optou não apenas por narrar as últimas horas do líder nazista, mas também por permitir que os fatos falassem por si mesmos. Assim, é notória a humanização de Hitler retratado não só nos inflamados discursos que o tornaram conhecido, mas, desta vez, também em sua intimidade, em seu tom confessional, em seu desgaste físico e mental.
Desse modo, o neurastênico ditador que chama seus oficiais de fracassados e covardes, que condena à morte os generais traidores que queriam fazer acordo com Eisenhower – o comandante das forças aliadas na Europa Ocidental –, que atribui ao povo alemão a culpa pela derrota e que abomina a nefasta influência dos judeus nas nações do Ocidente, esse ditador, pela primeira vez, contrasta com o frágil sujeito que alimenta sua cadela Blondi (a quem considera mais inteligente do que muitos humanos), com o homem que dispensa um dócil tratamento às mulheres e que se preocupa com o bem-estar de sua companheira e futura esposa Eva Braun, com o personagem esgotado que aspira à paz eterna quando der cabo de sua existência. Paz que só seria possível em vida se fossem vitoriosas suas apaixonadas concepções ideológicas e estéticas. Artes, Cultura, a marca de uma civilização que duraria milênios, era tudo de que o povo precisava, filosofa Hitler.
Seu aniversário, inclusive, se dá naqueles dias. Em 20 de Abril Hitler comemorou seu 56º. aniversário. Albert Speer, o ministro das armas, que com ele esteve naquela ocasião, impressionou-se com o estado do führer que, segundo relata, parecia-se com um decrépito ancião; até mesmo o uniforme, antes impecável, agora estava amarrotado, manchado pela comida que levava trêmulo à boca. Era o próprio retrato do regime que ruía.
É importante notar que as críticas em torno da obra dizem respeito, também, ao fato de o filme não exibir sequer um herói americano, não ter exaltado o exército aliado, ou atribuído ao povo judeu o monopólio do sofrimento mundial. Por outro lado, também A Queda não visou ancorar-se na figura de um líder traído e abandonado pelos demais. Antes, aposta no vigor da história, na força que ela contém em si mesma, o que lhe aproxima muito de um documentário exigindo, por isto, o máximo de dramaticidade dos personagens.
Essa latente tensão fica evidente através de Goebbels, ministro da propaganda, e de sua esposa Magda. Ali é que podemos vislumbrar o que Hitler e a ideologia nazista representaram à Alemanha. Era uma filosofia de vida. Nas palavras de Magda “nosso ideal morreu junto com a coisa mais linda, admirável e nobre que conhecemos. Não há futuro em um mundo sem o nacional-socialismo”. Parece não ter fim a cena em que ela põe em prática o trágico fim de sua família, ao som de cápsulas com veneno se rompendo entre os dentes, retratada de forma crua, resoluta. Também a cena do aposento de Hitler após seu suicídio, mostrando uma arma e uma poça de sangue, nos faz pensar no quanto tudo aquilo que está ocorrendo (trata-se de uma guerra de imensas proporções) tenha, curiosamente, sido idealizado por um simples mortal, cuja oratória provocava a admiração incondicional e o domínio da massa de insatisfeitos na Alemanha pós Tratado de Versalhes e Crise de 1929. Um simples mortal, aparentemente frágil, considerado uma das figuras mais vigorosas e emblemáticas do século XX.
A cena da fuga dos alemães na Berlim prestes a ser ocupada também há de ser lembrada. A destruição dos departamentos com suas documentações incendiadas, os amplos edifícios abandonados despejando pelas janelas sua parte de responsabilidade por tudo que ocorrera em 12 anos de Reich. A guerra acabaria em 07 de Maio com a rendição alemã, mas o Japão a estenderia até Agosto daquele ano.
Inconformado com o avanço das tropas russas, o líder nazista traça insólitas estratégias de guerra nas linhas de um mapa, conduzindo, com suas trêmulas mãos, imaginários exércitos aos campos de batalha. O führer – líder –, com peculiares arroubos de grandeza, lutava inutilmente contra o fim que se anunciava através das sucessivas derrotas do exército nazista frente ao rolo compressor do Exército Vermelho. O Terceiro Reich foi uma designação nacionalista que evocava o Sacro Império Romano-Germânico fundado por Oton I em 962, e o Segundo Império, de Guilherme I em 1871, com a unificação alemã. E o sonho dele se perpetuar estava prestes a ruir juntamente com os planos de conquista mundial.
Esse é o cenário retratado em A Queda, filme realizado em 2004, baseado nos relatos do livro “Bis Zur Letzten Stunde” (Até a Hora Final: A Última Secretária de Hitler) de Traudl Junge e Melissa Müller, e em “Der Untergang”(No Bunker de Hitler: Os Últimos Dias do Terceiro Reich) de Joachim Fest. O filme provocou controversas opiniões. Isto porque o diretor Oliver Hirschbiegel optou não apenas por narrar as últimas horas do líder nazista, mas também por permitir que os fatos falassem por si mesmos. Assim, é notória a humanização de Hitler retratado não só nos inflamados discursos que o tornaram conhecido, mas, desta vez, também em sua intimidade, em seu tom confessional, em seu desgaste físico e mental.
Desse modo, o neurastênico ditador que chama seus oficiais de fracassados e covardes, que condena à morte os generais traidores que queriam fazer acordo com Eisenhower – o comandante das forças aliadas na Europa Ocidental –, que atribui ao povo alemão a culpa pela derrota e que abomina a nefasta influência dos judeus nas nações do Ocidente, esse ditador, pela primeira vez, contrasta com o frágil sujeito que alimenta sua cadela Blondi (a quem considera mais inteligente do que muitos humanos), com o homem que dispensa um dócil tratamento às mulheres e que se preocupa com o bem-estar de sua companheira e futura esposa Eva Braun, com o personagem esgotado que aspira à paz eterna quando der cabo de sua existência. Paz que só seria possível em vida se fossem vitoriosas suas apaixonadas concepções ideológicas e estéticas. Artes, Cultura, a marca de uma civilização que duraria milênios, era tudo de que o povo precisava, filosofa Hitler.
Seu aniversário, inclusive, se dá naqueles dias. Em 20 de Abril Hitler comemorou seu 56º. aniversário. Albert Speer, o ministro das armas, que com ele esteve naquela ocasião, impressionou-se com o estado do führer que, segundo relata, parecia-se com um decrépito ancião; até mesmo o uniforme, antes impecável, agora estava amarrotado, manchado pela comida que levava trêmulo à boca. Era o próprio retrato do regime que ruía.
É importante notar que as críticas em torno da obra dizem respeito, também, ao fato de o filme não exibir sequer um herói americano, não ter exaltado o exército aliado, ou atribuído ao povo judeu o monopólio do sofrimento mundial. Por outro lado, também A Queda não visou ancorar-se na figura de um líder traído e abandonado pelos demais. Antes, aposta no vigor da história, na força que ela contém em si mesma, o que lhe aproxima muito de um documentário exigindo, por isto, o máximo de dramaticidade dos personagens.
Essa latente tensão fica evidente através de Goebbels, ministro da propaganda, e de sua esposa Magda. Ali é que podemos vislumbrar o que Hitler e a ideologia nazista representaram à Alemanha. Era uma filosofia de vida. Nas palavras de Magda “nosso ideal morreu junto com a coisa mais linda, admirável e nobre que conhecemos. Não há futuro em um mundo sem o nacional-socialismo”. Parece não ter fim a cena em que ela põe em prática o trágico fim de sua família, ao som de cápsulas com veneno se rompendo entre os dentes, retratada de forma crua, resoluta. Também a cena do aposento de Hitler após seu suicídio, mostrando uma arma e uma poça de sangue, nos faz pensar no quanto tudo aquilo que está ocorrendo (trata-se de uma guerra de imensas proporções) tenha, curiosamente, sido idealizado por um simples mortal, cuja oratória provocava a admiração incondicional e o domínio da massa de insatisfeitos na Alemanha pós Tratado de Versalhes e Crise de 1929. Um simples mortal, aparentemente frágil, considerado uma das figuras mais vigorosas e emblemáticas do século XX.
A cena da fuga dos alemães na Berlim prestes a ser ocupada também há de ser lembrada. A destruição dos departamentos com suas documentações incendiadas, os amplos edifícios abandonados despejando pelas janelas sua parte de responsabilidade por tudo que ocorrera em 12 anos de Reich. A guerra acabaria em 07 de Maio com a rendição alemã, mas o Japão a estenderia até Agosto daquele ano.
Destaque para a atuação de Bruno Ganz, ator que ousadamente interpretou o papel do ditador, estudando minuciosamente aspectos de sua personalidade, trejeitos e o sotaque austríaco. Deste ator também é a voz que narra o famoso documentário “Arquitetura da Destruição”, obra realizada por Peter Cohen, em 1994.
A Queda concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, bateu recordes de bilheteria na Alemanha, na Inglaterra e fez sucesso nos Estados Unidos. Teve uma exibição tímida nos cinemas de Israel, pois o Centro de Direitos Humanos Judaico recomendou que o mesmo não fosse visto. É uma obra única, corajosa e que acrescenta novos elementos aos habituais filmes sobre a Segunda Guerra Mundial, explorando os bastidores, as mentalidades e os efeitos de uma ideologia nas entrelinhas do conflito.
A Queda concorreu ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, bateu recordes de bilheteria na Alemanha, na Inglaterra e fez sucesso nos Estados Unidos. Teve uma exibição tímida nos cinemas de Israel, pois o Centro de Direitos Humanos Judaico recomendou que o mesmo não fosse visto. É uma obra única, corajosa e que acrescenta novos elementos aos habituais filmes sobre a Segunda Guerra Mundial, explorando os bastidores, as mentalidades e os efeitos de uma ideologia nas entrelinhas do conflito.
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