quarta-feira, 28 de julho de 2010

O rio






          O rio







o rio é um tipo de respiração

profunda

que mergulha no silêncio de dentro

da gente


queria ou cantar ou assoviar estas notas:

descansa, chuva

desvanece, sol

Fédon



FÉDON

(Destaque: Aristócles, mais conhecido como Platão)

Cenário: Sócrates, às vésperas de sua execução, dialoga com Fédon sobre a morte e o destino de sua alma. Para ele, a vida do verdadeiro filósofo seria uma preparação para a morte, que consiste na libertação da alma do cárcere do corpo.

Desde o princípio – prosseguiu Sócrates – não se segue que os filósofos precisam pensar e dizer: a razão deve seguir apenas um caminho em suas investigações, enquanto tivermos corpo e nossa alma estiver absorvida nessa corrupção, jamais possuiremos o objeto de nossos desejos, isto é, a verdade. Porque o corpo nos oferece mil obstáculos pela necessidade que temos de sustentá-lo, e as enfermidades perturbam nossas investigações. Em primeiro lugar nos enche de amores, de desejos, de receios, de mil ilusões e de toda classe de tolices, de modo que nada é mais certo do que aquilo que se diz correntemente: que o corpo nunca nos conduz a algum pensamento sensato. Não, nunca! Quem faz nascer as guerras, as revoltas e os combates? Nada mais que o corpo, com todas as suas paixões. (...) Eis o motivo de não termos tempo para pensar em filosofia. (...) Enquanto estivermos nesta vida não nos aproximaremos da verdade...(...) Desta forma, livres da loucura do corpo, (...) conheceremos por nós mesmos a essência das coisas, e talvez, a verdade não seja mais do que isso.
Fonte: Platão, Os Pensadores.

Comentário: A ideia da existência de uma substância superior chamada alma – na qual não acredito – em detrimento do corpo irá influenciar todo o cristianismo medieval. Entretanto, no mundo contemporâneo, é a Corpolatria – o culto ao corpo – que tem predominado, em detrimento da alma   termo que utilizo aqui em seu sentido amplo, designando o não físico, não material como, por exemplo, o caráter da pessoa.


Letra: Nude



Nude

Radiohead







Don't get any big ideas
Não tenha grandes idéias
They're not gonna happen
Elas não vão acontecer
You paint yourself white
Você se pinta de branco
And feel up with noise
E se sente com problemas
But there'll be something missing
Mas ali estará alguma coisa faltando.


Now that you've found it, it's gone
Agora que você encontrou, se foi
Now that you feel it, you don't
Agora que sente isso, não sentirá
You've gone off the rails
Você vai sair fora dos trilhos


So don't get any big ideas
Então não tenha grandes idéias
They're not going to happen
Elas não vão acontecer
You'll go to hell for what your dirty mind is thinking
Você irá para o inferno pelo o que sua mente suja pensa. 

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Filmes de ontem e de hoje:




AVATAR:
PARA ENCHER
OS OLHOS



Até bem pouco tempo a palavra avatar podia ser usada, basicamente, para se referir a três coisas: à crença hinduísta na descida de um ser espiritual à terra, ao desenho animado em estilo mangá ou, ainda, ao personagem que os usuários utilizam ao se associar à rede de relacionamentos virtuais Second Life.
Isso mudou a partir de 18 de Dezembro de 2009, data em que Avatar, o filme, foi lançado. O termo, assim como “nirvana” remonta a uma certa banda grunge dos anos 90, a partir de então deverá designar um marco do cinema.
E o que há de tão especial neste filme, além de ser o mais caro da história, já que foram necessários quase 500 milhões de dólares para sua realização? Em primeiro lugar a direção é de James Cameron, autor de Exterminador do Futuro (1984), Alien-O Resgate (1986) e Titanic (1997). Em segundo, foi produzido para ser visto em 3D, um tipo de projeção tridimensional que busca provocar no espectador um mergulho nas imagens, em definição e profundidade, dando maior realismo às cenas que, sendo artificialmente produzidas, proporcionam uma nova maneira de experienciar cinema. Por isso a aspiração de Avatar não é pouca: pretende se consolidar como um novo padrão de linguagem.
Na tela, florestas fluorescentes, seres e animais exóticos compõem um mundo multicolorido e exuberante. Para adentrá-lo, precauções foram tomadas para que os espectadores não sentissem tonturas ou dores de cabeça durante a exibição, que foram desde os anos 50 empecilhos para este tipo de projeção. Consta que, no Brasil, temos poucas salas com telas especiais para o 3D – somente em São Paulo e em Curitiba, dizem – e, por isso, os efeitos são amenizados. De fato, para quem assiste nas poltronas mais próximas, nos primeiros minutos a sucessão de imagens ágeis, com viradas bruscas de 360 graus, pode causar desconforto, como se olhos e cérebro, ainda não habituados ao cenário, fossem mecanismos antiquados, incapazes de captar e interpretar adequadamente a ação que se desenrola nas cenas panorâmicas. Mas é de supor que este efeito, sendo momentâneo, também o seja proposital.
Todo este apuro técnico garantiu recordes de bilheteria, mas não estatuetas de Oscars que, em 2010, foi para Guerra ao Terror. Mas talvez, para o diretor, o reconhecimento da Academia nem seja tão importante assim, afinal, este é o filme da vida de Cameron, que esperou mais de dez anos para que fosse desenvolvida a tecnologia – inclusive com sua ajuda - necessária para realizá-lo. É como se fosse seu Star Wars (1977), lembrando aqui o filme que o fascinou e o fez entrar para o ramo.
A história de Avatar é simples, previsível. É sobre seres humanos que pretendem invadir o planeta Pandora, em busca de um valioso minério. Mas para sobreviver à sua atmosfera, os humanos têm de entrar em uma máquina onde, através de projeção mental, assumem seu avatar, que é a extensão da pessoa em um outro corpo, no caso, em um corpo dos seres Na’Vi, habitantes de Pandora. É a releitura do mito do colonizador, do homem branco que se envolve com uma cultura que, ao lutar para manter seus valores, se torna hostil.
Atração principal, a caracterização dos Na’Vis, apesar de comentários depreciativos de serem uma fusão mal feita de Smurfs e Thundercats, é perfeita. Azulados, esguios, com cerca de três metros de altura e feições que mesclam indígenas, africanos e felinos, estas criaturas azuis proporcionam momentos poéticos e até românticos, capazes de levar o público mais exaltado a aplaudi-los em cenas tocantes. Até mesmo o Gollum, a versão má do Sméagal de O Senhor dos Anéis (2001-2003), foi superado. Citação, aliás, bastante apropriada, já que tal qual na obra de Tolkien, foi criado um dialeto totalmente original por uma equipe de lingüistas e fonoaudiólogos, com todos os requisitos gramaticais, sintáticos e morfológicos.
Como nas obras anteriores de Cameron, a protagonista, Neityri, é corajosa e durona como Ripley (de Alien) e Sarah O’Connor (de Terminator), mas bem mais pueril que suas antecessoras. Curiosamente Sigourney Weaver está no elenco, dessa vez como uma pesquisadora, deixando a infantaria para Michelle Rodriguez, de Lost (2005).
Já as referências que remontam à simbiose entre homem e natureza, ao animismo indígena ou ao misticismo holístico, podem soar pedantes, pois lembram os clichês discursivos das causas ecológicas e as doutrinas algodão-doce da Nova Era. Mas isso não compromete o entretenimento. E a simbologia, não apelando para apologia, não relativiza os conceitos de bem e mal, prevalecendo assim o tratamento dado à diversidade cultural, à busca do convívio pacífico entre civilizações.
Se o roteiro tem sido criticado por se assemelhar a Pocahontas (1995), O Último dos Moicanos (1992) e Dança com Lobos (1990), os efeitos especiais deverão prevalecer e ocupar o mesmo papel que fizeram de Matrix (1999) uma obra de referência copiada até hoje. Mas, afinal de contas, acaso Titanic tinha roteiro?

Evento: XV Salão de Artes Plásticas

XV SALÃO REGIONAL ALOYSIO DE AVELLAR CORSINI DE ARTES PLÁSTICAS

Comentário do Blog: A Casa da Cultura está de parabéns pela organização do evento.


















LANÇAMENTO DO LIVRO: "RIR PESAR CHORAR"





Livro de José Keitel Ribeiro









Obra: Manhã de Terça-Feira

Autora: Vanda
Olive



Comentário do Blog: Obra pulsante. O poder do discurso imagético.






Obra: Igreja no frio sereno

Autor: Luiz Sérgio Mafra









Obra: Primavera em Flor

Autora: Tita Simoni










Obra: O Último Asteca

Autor: Bill















Obra: Casario

Autor: Alan Costa









Obra: Pôr do Sol

Autora: Keila Carvalho












Obra: T. Rex

Autor: Fabio Gomes









Obra: Me Toque

Autora: Flávia

Técnica: Colagem de Plástico s/ Papel



Realização: Projeto Solar


Obs: Nem todas as obras aqui expostas tiveram sua exibição autorizada por seus autores. Agradeço a compreensão dos mesmos, pois o objetivo do Blog é divulgar o trabalho desses artistas.

sábado, 10 de julho de 2010

Filmes de ontem e de hoje:


ÚLTIMA PARADA 174
Qual seria o sentido de assistir a um filme em que todos já sabem do trágico desfecho? Quando a pergunta se referia ao hoje piegas Titanic (1997), o resultado foi o sucesso que até a múmia-que-canta Celine Dion desfrutou. Quanto a Carandiru (2002), apenas bons atores e o Santoro, o salvador da pátria, nada mais.
Em Última Parada 174, estão lá os elementos que caracterizaram alguns dos recentes e expressivos filmes nacionais. Drogas, sem o requinte, o glamour modista da geração grunge skatista americana de Kids (1995) de Gus Van Sant, que virou a cabeça de muita gente – jovens locais, inclusive. Drogas e a miséria nua e crua, a favela, o tráfico, prostituição, violência, palavras chulas. Nada de idealismos, de ídolos pop. Estes se foram com a idéia de família. O engajamento aqui é o de ser bom de pontaria aos dez anos de idade. Outro elemento importante: a presença sempre peculiar da Igreja, esta, cuja atividade terapêutica mais uma vez promove transformações e impede a implosão da sociedade em uma completa selvageria e carnificina. Em Carandiru, Central do Brasil (1998), Cidade de Deus (2002) e Linha de Passe (2008), é muito sutil, mas evidente esta função civilizatória, redentora.
O forte roteiro do filme nem precisou do cabide adotado por Tropa de Elite (2007), a saber, um narrador dando sentido às seqüências. Como nas obras de Fernando Meirelles, é a câmera sozinha quem conta a história, e isto basta. E aqui a história é a de dois jovens, em final de adolescência, entendendo-se por meio da linguagem quase gestual que lhes foi legada pela vida em uma cidade grande. O ódio no coração, a língua mordaz, a pele de hematomas.
O Alê da Candelária, conhecido como Alê Beijo, devia dinheiro ao Alê Monstro, o Alê do Comando Vermelho. Os vemos crescer em semelhanças, de idade, orfandade, histórias, e algo mais, muito mais sutil. Quando em certa cena, imortal cena, a mão é estendida ao outro, a cumplicidade entre os dois suplanta as divergências, e o sublime predomina sobre o lamaçal. Para ambos, entretanto, permanece a inaptidão diante das coisas mais simples, como a bondade e a verdade. Qual seria, por exemplo, a utilidade de uma mãe? A lei dos estômagos vazios, do vício, da fuga, da constante fuga e a permanência da idéia do improviso, esta lei diria ser uma oportunidade, não se sabe para que ou até quando, que a novidade de hoje, o eterno e mesmo dia, é preencher as próximas horas de calor com dinheiro, pequenos furtos, talvez homicídios, praia e muito provavelmente mulheres. A urgência do saciar das volições. Esse é o único modo de viver a vida conhecido.
Alê Beijo quer ser amado, quer uma mulher que se importe. Soninha, a tal luz no fim do túnel, não é mais do que poderia ser. Uma companhia para horas vagas, promiscuidade no intervalo das promiscuidades. Como qualquer pessoa com avidez pela vida faria, Alê usufrui todas as possibilidades afetivas viáveis a alguém que tenha seu atribulado histórico. E todas elas, tão escassas, se despedaçam como um copo de vidro, objeto que atua como uma espécie de gatilho em sua história, e que é a metáfora de sua própria vida, a de uma criança perdida cuja base emocional passa a ser agora uma arma na mão.
Nãomeio termo. Para Alê Beijo, nãoum lugar onde se possa estar e, ao mesmo tempo, ser querido. Seu personagem, coberto de um senso de justiça que lhe é constantemente negada, espanca meninos de rua e prostitutas, seqüestra um ônibus, dá lições aos passageiros ao criticar o racismo dos policiais. Trata-se de uma situação que ganha ares surreais, até burlescos. No vidro do ônibus o rapaz de coração partido manda escrever com batom que às 19 horas ele “vai matar geral”. Nem os supostos reféns, a polícia ou o próprio criminoso parecem compreender a gravidade do que ocorre.
Sem tempo para eufemismos, o crime ganha um corpo, uma espécie de refrão desengonçado entre uma sucessão de ruídos e palavras duras fora de compasso. Resta o olhar do criminoso, pasmo, infantil, inocente. De nada sabe, nada lhe é dado a saber. Não se dá conta dos fatos, da multidão de braços e palavrórios, da babel de ações que o envolve, do abraço que quer matá-lo.
São cenas marcantes, alternadas com imagens reaisPanorâmicas do Cristo Redentor e sua beleza tumular, como a nos lembrar do concreto da vida embaixo, transcorrendo normalmente para tantos, ao mesmo tempo em que é interrompida para outros. Pessoas correndo atrás do carro de polícia, personagens e lamentações, televisores arautos da má notícia e comoção geral. Devia ter pena de morte, alguém diz. Matar não adianta, responde a voz ao fundo. Como filmar seriamente uma cena burlesca? Bruno Barreto, o diretor, deixa acontecer do jeito que tem de ser, sem sentido, amadora, frágil, lacunas. As lacunas da vida real, tão falha, tão miserável. O que conta não é o que se conta, mas como. E é estecomoque faz desta uma obra-prima, como pouco se viu no que agora podemos finalmente chamar de cinema brasileiro.

Desfecho conhecido, a pensar se poderia ser evitado. Mas não ignorado. 

Texto revisado em 06/01/2011.