AVATAR:
PARA ENCHER
OS OLHOS
Até bem pouco tempo a palavra avatar podia ser usada, basicamente, para se referir a três coisas: à crença hinduísta na descida de um ser espiritual à terra, ao desenho animado em estilo mangá ou, ainda, ao personagem que os usuários utilizam ao se associar à rede de relacionamentos virtuais Second Life.
Isso mudou a partir de 18 de Dezembro de 2009, data em que Avatar, o filme, foi lançado. O termo, assim como “nirvana” remonta a uma certa banda grunge dos anos 90, a partir de então deverá designar um marco do cinema.
E o que há de tão especial neste filme, além de ser o mais caro da história, já que foram necessários quase 500 milhões de dólares para sua realização? Em primeiro lugar a direção é de James Cameron, autor de Exterminador do Futuro (1984), Alien-O Resgate (1986) e Titanic (1997). Em segundo, foi produzido para ser visto em 3D, um tipo de projeção tridimensional que busca provocar no espectador um mergulho nas imagens, em definição e profundidade, dando maior realismo às cenas que, sendo artificialmente produzidas, proporcionam uma nova maneira de experienciar cinema. Por isso a aspiração de Avatar não é pouca: pretende se consolidar como um novo padrão de linguagem.
Na tela, florestas fluorescentes, seres e animais exóticos compõem um mundo multicolorido e exuberante. Para adentrá-lo, precauções foram tomadas para que os espectadores não sentissem tonturas ou dores de cabeça durante a exibição, que foram desde os anos 50 empecilhos para este tipo de projeção. Consta que, no Brasil, temos poucas salas com telas especiais para o 3D – somente em São Paulo e em Curitiba, dizem – e, por isso, os efeitos são amenizados. De fato, para quem assiste nas poltronas mais próximas, nos primeiros minutos a sucessão de imagens ágeis, com viradas bruscas de 360 graus, pode causar desconforto, como se olhos e cérebro, ainda não habituados ao cenário, fossem mecanismos antiquados, incapazes de captar e interpretar adequadamente a ação que se desenrola nas cenas panorâmicas. Mas é de supor que este efeito, sendo momentâneo, também o seja proposital.
Todo este apuro técnico garantiu recordes de bilheteria, mas não estatuetas de Oscars que, em 2010, foi para Guerra ao Terror. Mas talvez, para o diretor, o reconhecimento da Academia nem seja tão importante assim, afinal, este é o filme da vida de Cameron, que esperou mais de dez anos para que fosse desenvolvida a tecnologia – inclusive com sua ajuda - necessária para realizá-lo. É como se fosse seu Star Wars (1977), lembrando aqui o filme que o fascinou e o fez entrar para o ramo.
PARA ENCHER
OS OLHOS
Até bem pouco tempo a palavra avatar podia ser usada, basicamente, para se referir a três coisas: à crença hinduísta na descida de um ser espiritual à terra, ao desenho animado em estilo mangá ou, ainda, ao personagem que os usuários utilizam ao se associar à rede de relacionamentos virtuais Second Life.
Isso mudou a partir de 18 de Dezembro de 2009, data em que Avatar, o filme, foi lançado. O termo, assim como “nirvana” remonta a uma certa banda grunge dos anos 90, a partir de então deverá designar um marco do cinema.
E o que há de tão especial neste filme, além de ser o mais caro da história, já que foram necessários quase 500 milhões de dólares para sua realização? Em primeiro lugar a direção é de James Cameron, autor de Exterminador do Futuro (1984), Alien-O Resgate (1986) e Titanic (1997). Em segundo, foi produzido para ser visto em 3D, um tipo de projeção tridimensional que busca provocar no espectador um mergulho nas imagens, em definição e profundidade, dando maior realismo às cenas que, sendo artificialmente produzidas, proporcionam uma nova maneira de experienciar cinema. Por isso a aspiração de Avatar não é pouca: pretende se consolidar como um novo padrão de linguagem.
Na tela, florestas fluorescentes, seres e animais exóticos compõem um mundo multicolorido e exuberante. Para adentrá-lo, precauções foram tomadas para que os espectadores não sentissem tonturas ou dores de cabeça durante a exibição, que foram desde os anos 50 empecilhos para este tipo de projeção. Consta que, no Brasil, temos poucas salas com telas especiais para o 3D – somente em São Paulo e em Curitiba, dizem – e, por isso, os efeitos são amenizados. De fato, para quem assiste nas poltronas mais próximas, nos primeiros minutos a sucessão de imagens ágeis, com viradas bruscas de 360 graus, pode causar desconforto, como se olhos e cérebro, ainda não habituados ao cenário, fossem mecanismos antiquados, incapazes de captar e interpretar adequadamente a ação que se desenrola nas cenas panorâmicas. Mas é de supor que este efeito, sendo momentâneo, também o seja proposital.
Todo este apuro técnico garantiu recordes de bilheteria, mas não estatuetas de Oscars que, em 2010, foi para Guerra ao Terror. Mas talvez, para o diretor, o reconhecimento da Academia nem seja tão importante assim, afinal, este é o filme da vida de Cameron, que esperou mais de dez anos para que fosse desenvolvida a tecnologia – inclusive com sua ajuda - necessária para realizá-lo. É como se fosse seu Star Wars (1977), lembrando aqui o filme que o fascinou e o fez entrar para o ramo.
A história de Avatar é simples, previsível. É sobre seres humanos que pretendem invadir o planeta Pandora, em busca de um valioso minério. Mas para sobreviver à sua atmosfera, os humanos têm de entrar em uma máquina onde, através de projeção mental, assumem seu avatar, que é a extensão da pessoa em um outro corpo, no caso, em um corpo dos seres Na’Vi, habitantes de Pandora. É a releitura do mito do colonizador, do homem branco que se envolve com uma cultura que, ao lutar para manter seus valores, se torna hostil.
Atração principal, a caracterização dos Na’Vis, apesar de comentários depreciativos de serem uma fusão mal feita de Smurfs e Thundercats, é perfeita. Azulados, esguios, com cerca de três metros de altura e feições que mesclam indígenas, africanos e felinos, estas criaturas azuis proporcionam momentos poéticos e até românticos, capazes de levar o público mais exaltado a aplaudi-los em cenas tocantes. Até mesmo o Gollum, a versão má do Sméagal de O Senhor dos Anéis (2001-2003), foi superado. Citação, aliás, bastante apropriada, já que tal qual na obra de Tolkien, foi criado um dialeto totalmente original por uma equipe de lingüistas e fonoaudiólogos, com todos os requisitos gramaticais, sintáticos e morfológicos.
Como nas obras anteriores de Cameron, a protagonista, Neityri, é corajosa e durona como Ripley (de Alien) e Sarah O’Connor (de Terminator), mas bem mais pueril que suas antecessoras. Curiosamente Sigourney Weaver está no elenco, dessa vez como uma pesquisadora, deixando a infantaria para Michelle Rodriguez, de Lost (2005).
Já as referências que remontam à simbiose entre homem e natureza, ao animismo indígena ou ao misticismo holístico, podem soar pedantes, pois lembram os clichês discursivos das causas ecológicas e as doutrinas algodão-doce da Nova Era. Mas isso não compromete o entretenimento. E a simbologia, não apelando para apologia, não relativiza os conceitos de bem e mal, prevalecendo assim o tratamento dado à diversidade cultural, à busca do convívio pacífico entre civilizações.
Se o roteiro tem sido criticado por se assemelhar a Pocahontas (1995), O Último dos Moicanos (1992) e Dança com Lobos (1990), os efeitos especiais deverão prevalecer e ocupar o mesmo papel que fizeram de Matrix (1999) uma obra de referência copiada até hoje. Mas, afinal de contas, acaso Titanic tinha roteiro?
Atração principal, a caracterização dos Na’Vis, apesar de comentários depreciativos de serem uma fusão mal feita de Smurfs e Thundercats, é perfeita. Azulados, esguios, com cerca de três metros de altura e feições que mesclam indígenas, africanos e felinos, estas criaturas azuis proporcionam momentos poéticos e até românticos, capazes de levar o público mais exaltado a aplaudi-los em cenas tocantes. Até mesmo o Gollum, a versão má do Sméagal de O Senhor dos Anéis (2001-2003), foi superado. Citação, aliás, bastante apropriada, já que tal qual na obra de Tolkien, foi criado um dialeto totalmente original por uma equipe de lingüistas e fonoaudiólogos, com todos os requisitos gramaticais, sintáticos e morfológicos.
Como nas obras anteriores de Cameron, a protagonista, Neityri, é corajosa e durona como Ripley (de Alien) e Sarah O’Connor (de Terminator), mas bem mais pueril que suas antecessoras. Curiosamente Sigourney Weaver está no elenco, dessa vez como uma pesquisadora, deixando a infantaria para Michelle Rodriguez, de Lost (2005).
Já as referências que remontam à simbiose entre homem e natureza, ao animismo indígena ou ao misticismo holístico, podem soar pedantes, pois lembram os clichês discursivos das causas ecológicas e as doutrinas algodão-doce da Nova Era. Mas isso não compromete o entretenimento. E a simbologia, não apelando para apologia, não relativiza os conceitos de bem e mal, prevalecendo assim o tratamento dado à diversidade cultural, à busca do convívio pacífico entre civilizações.
Se o roteiro tem sido criticado por se assemelhar a Pocahontas (1995), O Último dos Moicanos (1992) e Dança com Lobos (1990), os efeitos especiais deverão prevalecer e ocupar o mesmo papel que fizeram de Matrix (1999) uma obra de referência copiada até hoje. Mas, afinal de contas, acaso Titanic tinha roteiro?
Adorei seu Blog, parabéns, ficou bem eclético. Abs!
ResponderExcluirexcelente visão e crítica. Com certeza palavras bem fundamentadas!!!
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