sábado, 17 de setembro de 2011

Estudo de Caso: Sofística Prática



PROTÁGORAS


Uma história divertida mostra como os sofistas passaram a ser vistos. Protágoras, convencido de que os seus ensinamentos eram infalíveis, disse a um aluno pobre que o pagasse com o que recebesse pelo seu primeiro caso no tribunal. Uma vez treinado, o jovem não começou a praticar o seu ofício. Protágoras processou-o para cobrar os seus honorários, argumentando perante a corte que o estudante deveria pagar pelo seu contrato, se vencesse, e pelo veredicto, se perdesse.

Ou seja, o contrato determinava que, ao vencer seu primeiro caso (detalhe: o caso era contra Protágoras) ele deveria pagar a Protágoras, pois isto é o que diz o contrato. Mas, se perdesse, pagaria pelo veredicto, ou seja, Protágoras o venceria e, portanto, teria de ser pago.

O acusado captou isso e fez melhor: declarou que o pagamento estava perdido pelo veredicto, se ganhasse, e pelo contrato, se perdesse.

Ou seja, se o veredicto lhe fosse favorável, ele não pagaria, pois teria ganho a causa. Caso ele perdesse (tivesse um veredicto desfavorável) não pagaria porque estaria contrariando o contrato (afinal, o contrato o cobraria somente se ele tivesse ganho o caso).


Concluindo: teríamos aqui uma espécie de paradoxo, em que uma sentença anula a outra. Esse seria um bom exemplo de como, por meio de uma linguagem sofisticada, o sofista poderia confundir uma pessoa para obter vantagem sobre ela. No exemplo que mencionamos, o estudante sofista superou seu mestre recorrendo à mesma tática.

 Citado em "História do Pensamento Ocidental" - Bertrand Russell, pág.64.


Na citação de Anthony Kenny:

“Os inimigos de Protágoras gostavam de contar a história sobre a ocasião em que ele processara seu discípulo Evalto pelo não pagamento de honorários. Evalto se recusara a pagar alegando que até então ele não ganhara uma simples causa: “Bem, disse Protágoras, se eu vencer esta causa, você deverá pagar em razão de o veredicto ter sido favorável a mim, mas, se for você o vencedor, ainda assim você deverá pagar, porque então você terá vencido uma causa”. (Diógenes Laércio, 9.56 – Lives of Philosophers).



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