sexta-feira, 29 de julho de 2011

Gálatas 4.16





Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade?



Cogito - Merleau-Ponty


Penso no Cogito cartesiano, quero terminar este trabalho, sinto em minha mão o frescor do papel, através da janela percebo as árvores da avenida. A cada momento minha vida precipita-se  em coisas transcendentes, ela se passa inteira no exterior. Ou o Cogito é esse pensamento que se formou há três séculos no espírito de Descartes, ou é o sentido dos textos que ele nos deixou, ou enfim uma verdade eterna que transparece através deles, de qualquer maneira ele é um ser cultural para o qual meu pensamento antes se dirige do que o abarca, assim como meu corpo em um ambiente familiar se orienta e caminha entre os objetos sem que eu precise representá-los expressamente. Este livro iniciado não é uma certa reunião de ideias, para mim ele constitui uma situação aberta da qual eu não saberia dar a fórmula complexa, e em que eu me debato cegamente até que, como que por milagre, os pensamentos e as palavras se organizem por si mesmos. Com mais razão ainda os seres sensíveis que me circundam, o papel sob minha mão, as árvores sob meus olhos, não me entregam seu segredo, minha consciência se esvai e se ignora neles. Tal é a situação inicial da qual o realismo tenta dar conta ao afirmar a transcendência efetiva e a existência em si do mundo e das ideias.
            Todavia, não se trata de dar razão ao realismo, e há uma verdade definitiva no retorno cartesiano das coisas ou das ideias ao eu. A própria experiência das coisas transcendentes é possível se eu trago e encontro em mim mesmo seu projeto. Quando digo que as coisas são transcendentes, isso significa que eu não as possuo, não as percorro, elas são transcendentes na medida em que ignoro aquilo que elas são e em que afirmo cegamente sua existência nua.

                                                                       Maurice Merleau-Ponty – Fenomenologia da Percepção.

Os 10 melhores filmes brasileiros

A ordem é aleatória, não obedecendo um ranking.


01 – O Homem do Ano
02 – Última Parada 174
03 – Cidade de Deus
04 – O Homem que Copiava
05 – Tropa de Elite
06 – Tropa de Elite 2
07 – Linha de Passe
08 - ... não identificado/não existe
09 - ... não identificado/não existe
10 - ... não identificado/não existe









quarta-feira, 27 de julho de 2011

Sábado Tricordiano I





Saia comprida branca,
E aroma de bala de melancia.
Estávamos de frente a um lago.
vendo corredores
no asfalto azul

O que aconteceu com a música?

O tapete da grama se esparramava.


E aquelas nossas músicas inglesas
uma boa combinação para o sábado

e pra você?
Saía o rosto sobre as costas das mãos sobrepostas

E aquelas nossas músicas inglesas


Tudo o que não machuca o ouvido,
eu quero muito.
Toque-me com sua voz
ou blues.

pensamos em voz alta
tudo aquilo de que não gostamos
os vemos
caindo na lava de um vulcão


Um fio verde entre os dentes,
o sumo esparramando entre os dentes
como crianças
anil no céu

Quem de nós insiste mais

em esparramar na grama


segunda-feira, 25 de julho de 2011

... e se Marx fosse vivo


... FUTEBOL É O ÓPIO DO POVO...

M83

Novo álbum do M83 deve sair em Outubro deste ano.

E o que nos espera...


... é tudo pelo que temos esperado.

Moon Child



Moon Child

They say I made the moon
Eles dizem que eu fiz a lua
Everything was in the dark
Tudo estava no escuro
No memories at all
Sem nenhum tipo de lembrança
Just a tiny freezing wind in my back
Apenas um vento congelante minúsculo em minhas costas
As I was sitting there
Como eu estava sentado
Singing a song they had never heard before
Cantando uma canção que nunca tinha ouvido antes
Suddenly, a voice told me
De repente, uma voz me disse
"Keep on singing, little boy
"Continue cantando, menino 
And raise your arms in the big black sky
E levante seus braços no grande céu negro
Raise your arms the highest you can
Erga os braços o mais alto que você pode
So the whole universe will glow"
Assim, o universo inteiro irá brilhar"

My first vision was a bush growing down the river
Minha primeira visão foi de um arbusto crescendo até o rio
And I couldn't stop crying
E eu não conseguia parar de chorar
Something was missing
Algo estava faltando
I realized I was in love with a voice
Eu percebi que estava apaixonado por uma voz
I called it, again, and again
Chamei-a, novamente, e novamente
But all I heard was the echo in the light
Mas tudo que eu ouvi foi o eco da luz

Copérnico




As teorias revolucionárias de Copérnico em De revolutionibus orbium celestium

01 – o mundo deve ser esférico;
02 – a Terra deve ser esférica;
03 – com a água, a Terra forma uma única esfera;
04 – o movimento dos corpos celestes é uniforme, circular e perpétuo ou então composto de movimentos circulares;
05 – a Terra se move em um círculo orbital em torno de seu centro, girando também sobre  seu eixo;
06 – comparados com a dimensão da Terra, é enorme a vastidão dos céus;
07 – razões pelas quais os antigos consideravam a Terra imóvel;
08 – a insuficiência de tais razões;
09 – a possibilidade de mais movimentos à Terra e o centro do Universo;
10 – a ordem das esferas celestes.


Fonte: História da Filosofia – Vol.II – Reale e Antiseri 

Humanismo





O homem é uma enxaqueca do tempo




No detalhe: Davi (Michelangelo)


Amy...




Poderia ter sido diferente?




quarta-feira, 20 de julho de 2011

E nós olhávamos para as árvores



olhávamos para as árvores

para o quanto as folhas

eram sós


na multidão de palmas

era o vento e mais nada

ou o céu e mais nada

somente nudez



aquelas palavras

atrás

voaram por cintilantes

cintilantes e ainda puros corações


não mais estes nossos


promessas

com pressa

convulsas nos galhos


fome em tempo de colheita.



Daniel 12.4


"Muitos correrão de uma parte para outra,
e o conhecimento se multiplicará."

The Power of KANT


Duas coisas enchem-me o espírito de admiração e reverência sempre novas e crescentes, quanto mais freqüente e longamente o pensamento nelas se detém: o céu estrelado acima de mim e a lei moral em mim. Não tenho que buscar essas duas coisas fora do alcance da minha vista, envolvidas em obscuridade, ou no transcendente. Nem devo, simplesmente, presumi-las. Eu as vejo diante de mim e as vinculo imediatamente à consciência da minha existência. A primeira começa do lugar que ocupo no mundo sensível externo e estende a conexão em que me encontro a grandezas imensuráveis, com mundos sobre mundos e sistemas de sistemas e, além disso, aos tempos sem fronteiras do seu movimento periódico, do seu início e da sua duração. A segunda parte do meu Eu invisível, da minha personalidade, representando-me em um mundo que tem uma infinitude verdadeira, mas que é perceptível pelo intelecto, com o qual (mas, por isso e ao mesmo tempo, com todos aqueles mundos visíveis) me reconheço em uma conexão não simplesmente acidental, como no primeiro caso, mas universal e necessária. A primeira visão, de um conjunto inumerável de mundos, aniquila, por assim dizer,  minha importância de criatura animal, que deverá restituir a matéria de que é feita ao planeta (um simples ponto no universo), depois de ter sido dotada por breve tempo (não se sabe como) de força vital. A segunda, ao contrário, eleva infinitamente o meu valor, como valor de uma inteligência, graças à minha personalidade, na qual a lei moral me revela uma vida independente da animalidade e até mesmo de todo o mundo sensível, pelo menos por aquilo que se pode deduzir da destinação final de minha existência em virtude dessa lei, destinação que não se limita às condições e às fronteiras desta vida, mas que vai até o infinito.
Crítica da Razão Prática.

Dança de redemoinhos à meia luz




A rua era aquela mesma, de todos os dias. Pouco interessante. Inclinada. Descuidada. No bairro.

Ao avistar o dono, de longe o cãozinho late. Faz, sobre a laje da casa, uma pose de Rei Leão. Uma festa. E um companheiro.

Você chorou hoje, parecia me dizer. Au, au. Olhos inchados. Au.

Um violeiro, quando apertei o passo, ficou para trás. Trazia umas notas tristes. Desoladas. No instrumento.

            Era uma noite, na cidade.

Ao ouvir o latido, todos os cães da rua acompanharam. Pareciam chorar junto.


            A menina, na porta da escola, despediu-se do namorado. Franzina. Os braços pendiam finos sob o corpo enlaçado. Claros, lisos, como os próprios cabelos, saíam das mangas da camisa preta de rock.

            Era uma tarde, na cidade.


Quem você teria amado no último inverno... porque eu não amei ninguém...
(passei esse tempo todo pensando em você...)


Você quer correr, ou ligar a TV – ela é a responsável pelo barulho na casa... – ouvir estações de rádio de madrugada. Se sua vida se parece com uma longa viagem de trem ou de táxi, sem ninguém para conversar. Levante a mão, peça pra descer... chama isto de pessimismo... te amei loucamente o tanto que durou e pelo tanto que durou... e amores assim nunca são simplesmente rompidos com um abraço ou aperto de mão... eles se consomem... você tem ideia da brutalidade que cometeu com teu amor?

Não me pergunte porque chorei, todas aquelas vezes. A cama, um confessionário em teus ombros... ou porque eu morria toda vez ...

Tudo isto é uma questão de idiossincrasia. Idiossincrasia.

Que é quando se é assim sem que se saiba o motivo. Quando se é sem saber, quando se sofre sem o saber, quando não se há motivo algum para nada acontecer... e tudo acontece.

Porque esta música é dedicada a todas as canções que não ouvimos. Ou todas as vozes que se recusaram a estar entre nós, declarando o amor...
Se dancei, não mais sei. Você ouve o saxofone ao longe. E o dia está começando. De novo. Pra quem...?


Algo me diz, diz assim. Talvez você pensando:
A novela das sete irá te socorrer. Você rirá com as trapaças, com as tragédias alheias, contadas de forma inacreditável, inaceitável. Volume alto. Olhará para o alto da noite, e perguntará às estrelas aquelas mesmas coisas. Será que o Pelé vai pro céu?


A solidão da janela à meia luz, em cima, naquele apartamento. Cortinas abafando a música. E o amor.
A solidão da janela à meia luz, é minha.

A cidade não se parece com nada. Absolutamente nada. Nenhum lugar de lugar algum. É uma estrada à toa, como essa poeira fina no redemoinho. Como eu ou a sombra humilde do poste na esquina, que se estende timidamente pela calçada. Um cone assustado pedindo licença o tempo todo. All the time. Me autorize a ser. Alguma coisa, qualquer coisa que seja.



Algo em mim, me diz assim. Mas poderia mesmo ser você:
A novela das sete irá te socorrer hoje. Volume alto. Únicas vozes ouvidas no dia. E você rirá com aquela conversinha. Riso de esquilo. Ri-ri-ri-ri-ri. Contemplará, como muitas vezes antes, no verão, o alto das constelações. E perguntará se a Bahia caberia na Lua. Como faríamos para mandá-la para ? Você olha para o lado e finge que comenta com alguém. Finge, uma esfinge.
Ou o que restou de sua voz em minha consciência.


Quer realmente entrar no ônibus circular, e circular. Redemoinho fugaz. Assim se conhece a cidade. De ponta a ponta, vielas, cenário de vídeo game irreal, auto relevo, placas de chapisco, ferindo os olhos e a mão, tão aquecido, pulsando como lodo e lava. Planta carnívora, as palmas de nossas mãos. África, Índia, Cabul. Ou somente eu. Acabou. Tudo aquilo que vi nas fotos ou na TV. Existe a dor. Existe a dor. Sim. Sim. Música na rádio, de madrugada. Somos essas coisas perdidas. Foragidos ... órfãos ... da sintonia.

A solidão daquela janela inexiste. Nem janela ela é. A tumba. Muda, fim sem ponto final. Acabou. Riso que não se completou. Ou poderia ser você dizendo coisas sobre o esquecimento em fuga. Círculos, redemoinho fugaz. Somente eu, os saxofones e as persianas num entardecer de céu areia.


Mas eu era moço, tinha o remédio em mim mesmo.
(Memórias Póstumas de Brás Cubas-Machado de Assis)



segunda-feira, 11 de julho de 2011

Wide Eyes - Local Natives





Oh some evil spirit
Oh algum espírito maligno

Oh some evil this way comes
Oh alguma forma este mal vem

They told me how they fear it
Disseram-me como eles temem

Now they're placing it on their tongues
Agora eles estão colocando-o em suas línguas

Oh to see it with my own eyes
Oh para vê-lo com meus próprios olhos

No food or water for the better part of ten months
Sem comida nem água durante a maior parte dos 10 meses

Quietly he sat between the folds of a free trunk
Calmamente sentou-se entre as dobras de um tronco de árvore

Oh to see it with my own eyes
Oh para vê-lo com meus próprios olhos

All the men of faith and men of science had their questions
Todos, homem de fé e homens de ciência tiveram suas perguntas

Could it ever be on earth as it is in heaven?
Poderia nunca ser assim na terra como no céu?