Quando
ouço comentários ou leio artigos criticando ou aprovando o BBB, na maioria das vezes me deparo com opiniões nada esclarecedoras, me fazendo recorrer à famosa teoria do boo-hooray, teoria ética emotivista que afirma que a maioria
das opiniões são expressas segundo a emoção da pessoa que a emite, sem procurar compreender
realmente do que se trata o assunto. Daí que uma parte afirma que o programa é ruim porque eles o reprovam (“boo”, buuuu), e a outra parte afirma que o programa é bom
simplesmente porque é bom de assistir (“hooray”, hurra), não chegando a
conclusão alguma.
Embora
vivamos na pós modernidade e chegar à conclusões satisfatórias parece tantas
vezes impossível quanto também irrelevante, queria manifestar meu pensamento,
até então indiferente, acerca do tema. Vejamos: o BBB é um programa de
entretenimento que pretende atrair o
maior número possível de espectadores. Para tal, desenvolve-se sobre uma
estrutura bastante simples, de fácil apelo comercial: relacionamento, intrigas,
discussões, sexo, entre outros. Esses temas são de constante interesse de toda
humanidade, visto que é ela própria, a humanidade, lançando um olhar sobre si
mesma. Aristóteles, em sua “Poética”,
mencionou que as histórias alheias nos atraem pelo tanto que elas fazem nos
esquecer (ou nos identificar) com nossos próprios dramas. A esse efeito,
promovido pela arte dramática, Aristóteles chamou de catarse. Também pela
análise das ações dos “personagens” no decorrer do programa, poderemos imaginar
se o homem é um “bom selvagem”, como acreditava Rousseau, ou se é “lobo do
homem”, como defendia Hobbes, ou, indo um pouco além, se o próprio modelo em
que o programa é estruturado já nos ofereceria um quadro de bom selvagem ou de
lobo.
Acontece
que, sendo um produto a ser consumido, essas tramas não são articuladas como os
romancistas o fizeram em suas obras – cito Shakespeare (Romeu e Julieta),
Stendhal (O Vermelho e o Negro) e
Tolstoi (Anna Karenina) –, nos oferecendo, por meio delas, um quadro bem
próximo da realidade. Há no BBB um artificialismo que incomoda: as
possibilidades do comportamento são condicionadas – e manipuladas –, fazendo
com que se perca a naturalidade das
ações. Até mesmo os próprios personagens
vão se adequando ao “jogo”, já que
pretendem obter um prêmio, que é o que justifica suas participações. Por isso,
nem os conflitos nem os affairs são espontâneos. São devidamente calculados,
visando a audiência, que é o sinequanon de todo o empreendimento. Agora vai
aqui uma provocação: sendo os personagens participantes de um jogo a qual tem
de se moldar, isto significa que há um cérebro, que não o deles, pensando o
jogo previamente, seja ditando as regras, seja distribuindo as cartas. Logo,
cada cena exibida foi escolhida e editada para provocar um efeito que talvez
não corresponda a realidade, mas à expectativa que parecer mais conveniente à
organização do programa, situação em que o grau de interesse é vinculado à
polêmicas e, simultaneamente, à audiência e lucro. Por isto, também é que, no
BBB, a sensualidade dos corpos é excessiva, carregada, de mau gosto, criando
uma situação paradoxal: a de ser mais pornográfico do que um filme de pornografia,
justamente por simular uma “indiferença” em relação a esta excessiva exposição,
coisa que os filmes adultos exploram de modo mais “explícito”, sem disfarces.
Vale lembrar que esta não é uma opinião moral, mas uma opinião puramente
estética, pois mesmo os clássicos autores que mencionei (Stendhal, Tolstoi e Shakespeare) também se
debruçaram sobre a sensualidade de seus personagens (vale lembrar aqui o Dorian
Gray de Wilde, ou o impulsivo Zeno, de Svevo, ou a cena da “cotovia e do
rouxinol”, na manhã “seguinte” do tórrido encontro entre Romeu e Julieta), que
era tratada de um modo natural, “humano”, por assim dizer.
Assim, o motivo de não assistir ao programa se deve
a seu excessivo artificialismo, por sua obviedade, por vender uma idéia falsa de que as pessoas ali
são naturais, enfim, pelo fato de o programa ser vendido com o sugestivo nome
de “reality show”, sendo que na verdade é uma ficção de péssima qualidade,
previsível, mal escrita, mal interpretada, falsa catarse. Por tudo o que o
programa exibe de mentira e enganação.
Acrescento
ainda em minha crítica a presença de Pedro Bial. Não tenho afinidade pelo
sujeito, e ponto. Mas não pretendo elaborar uma justificativa, no momento, para
tal antipatia, recorrendo, portanto, ao cabide do hurra-boo.
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