quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

BIG BROTHER BRASIL: por que NÃO????


                Quando ouço comentários ou leio artigos criticando ou aprovando o BBB, na maioria das vezes me deparo com opiniões nada esclarecedoras, me fazendo recorrer à famosa teoria do boo-hooray, teoria ética emotivista que afirma que a maioria das opiniões são expressas segundo a emoção da pessoa que a emite, sem procurar compreender realmente do que se trata o assunto. Daí que uma parte afirma que o programa é ruim porque eles o reprovam (“boo”, buuuu), e a outra parte afirma que o programa é bom simplesmente porque é bom de assistir (“hooray”, hurra), não chegando a conclusão alguma.
                Embora vivamos na pós modernidade e chegar à conclusões satisfatórias parece tantas vezes impossível quanto também irrelevante, queria manifestar meu pensamento, até então indiferente, acerca do tema. Vejamos: o BBB é um programa de entretenimento que pretende  atrair o maior número possível de espectadores. Para tal, desenvolve-se sobre uma estrutura bastante simples, de fácil apelo comercial: relacionamento, intrigas, discussões, sexo, entre outros. Esses temas são de constante interesse de toda humanidade, visto que é ela própria, a humanidade, lançando um olhar sobre si mesma.  Aristóteles, em sua “Poética”, mencionou que as histórias alheias nos atraem pelo tanto que elas fazem nos esquecer (ou nos identificar) com nossos próprios dramas. A esse efeito, promovido pela arte dramática, Aristóteles chamou de catarse. Também pela análise das ações dos “personagens” no decorrer do programa, poderemos imaginar se o homem é um “bom selvagem”, como acreditava Rousseau, ou se é “lobo do homem”, como defendia Hobbes, ou, indo um pouco além, se o próprio modelo em que o programa é estruturado já nos ofereceria um quadro de bom selvagem ou de lobo.
                Acontece que, sendo um produto a ser consumido, essas tramas não são articuladas como os romancistas o fizeram em suas obras – cito Shakespeare (Romeu e Julieta), Stendhal (O  Vermelho e o Negro) e Tolstoi (Anna Karenina) –, nos oferecendo, por meio delas, um quadro bem próximo da realidade. Há no BBB um artificialismo que incomoda: as possibilidades do comportamento são condicionadas – e manipuladas –, fazendo com que se perca  a naturalidade das ações.  Até mesmo os próprios personagens vão se adequando ao “jogo”,  já que pretendem obter um prêmio, que é o que justifica suas participações. Por isso, nem os conflitos nem os affairs são espontâneos. São devidamente calculados, visando a audiência, que é o sinequanon de todo o empreendimento. Agora vai aqui uma provocação: sendo os personagens participantes de um jogo a qual tem de se moldar, isto significa que há um cérebro, que não o deles, pensando o jogo previamente, seja ditando as regras, seja distribuindo as cartas. Logo, cada cena exibida foi escolhida e editada para provocar um efeito que talvez não corresponda a realidade, mas à expectativa que parecer mais conveniente à organização do programa, situação em que o grau de interesse é vinculado à polêmicas e, simultaneamente, à audiência e lucro. Por isto, também é que, no BBB, a sensualidade dos corpos é excessiva, carregada, de mau gosto, criando uma situação paradoxal: a de ser mais pornográfico do que um filme de pornografia, justamente por simular uma “indiferença” em relação a esta excessiva exposição, coisa que os filmes adultos exploram de modo mais “explícito”, sem disfarces. Vale lembrar que esta não é uma opinião moral, mas uma opinião puramente estética, pois mesmo os clássicos autores que mencionei  (Stendhal, Tolstoi e Shakespeare) também se debruçaram sobre a sensualidade de seus personagens (vale lembrar aqui o Dorian Gray de Wilde, ou o impulsivo Zeno, de Svevo, ou a cena da “cotovia e do rouxinol”, na manhã “seguinte” do tórrido encontro entre Romeu e Julieta), que era tratada de um modo natural, “humano”, por assim dizer.
                Assim,  o motivo de não assistir ao programa se deve a seu excessivo artificialismo, por sua obviedade, por  vender uma idéia falsa de que as pessoas ali são naturais, enfim, pelo fato de o programa ser vendido com o sugestivo nome de “reality show”, sendo que na verdade é uma ficção de péssima qualidade, previsível, mal escrita, mal interpretada, falsa catarse. Por tudo o que o programa exibe de mentira e enganação.
                Acrescento ainda em minha crítica a presença de Pedro Bial. Não tenho afinidade pelo sujeito, e ponto. Mas não pretendo elaborar uma justificativa, no momento, para tal antipatia, recorrendo, portanto, ao cabide do hurra-boo.

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