Further, último CD do Chemical Brothers, é convite à felicidade .
O Chemical Brothers, dupla de DJs britânicos formada por Ed Simons e Tom Rowlands, lançou seu sétimo cd, Further, no final de Junho deste quase saudoso ano de 2010. Talvez pela preocupação geral com aquela grande bobagem que é a Copa do Mundo de futebol , o fato é que o lançamento passou despercebido e, tendo-o descoberto recentemente sob o crivo de pouquíssima crítica decente, vi-me na obrigação de escrever algo a respeito .
Acostumados a trabalhar com participações de vocalistas de peso em seus discos – Beth Orthon, Bernard Summers (New Order), Richard Aschcroft (Verve ), Noel Gallaher (Oasis), Bob Gillespie (Primal Scream) e a angelical Hope Sandoval (Mazzy Stars) – o que demonstrava uma forte tendência de eles terem músicas cada vez mais cantadas em seus discos , em Further dispensaram o uso de letras extensas e privilegiaram a construção de camadas e mais camadas sonoras, acompanhadas de pequenas refrões e uma mescla de raios laser , blips, sons esotéricos , gaita de fole , relinchos de cavalos equalizados à enésima potência . Na abertura , a climática e hippie Snow traz a declaração mântrica “your love keeps lifting me , lifting me higher” (seu amor continua me elevando, cada vez mais alto ), fórmula que irá se perpetuar ao longo do cd. Esta lenta introdução conduz às batidas dançantes da envolvente Escape Velocity, com seus teclados antigos que lembram os anos 70 e os shows ancestrais de Deep Purple ou mesmo Doors. A pérola Another World, em seguida , surge com o anúncio “we will move to another observation point” (nos moveremos para outro ponto de observação ), que soa como uma desaceleração, pausa necessária que nos conduzirá ao lamuriante e colante refrão “another world will surrond me , another heart will forgive” (outra existência irá me envolver , outro coração será esquecido), obra-prima do gênero , que evoca um clima discoteca , bastante ingênua , tristemente bela e em direção às cores , em que um sintetizador house, concreto denso que se dilui à medida que vai fincando uma estaca no coração , é acompanhado de duas imensas batidas , que surgem em momentos esparsos , como que a encerrar dramas em definitivo , conduzindo a composição a um cume estético luminoso . A introdução quebrada poderá causar estranhamento, como se algo estivesse descompassado. Mas é absurdamente proposital , pois faz da música a vibração contínua de um sentimento em desalinho com um certo ideal inatingível , platônico , ao mesmo tempo em que nos convida a ir adiante , em direção à uma felicidade possível . E toda ela , no auge , envolvida num coro de “lá-ri-lá-ri-lá-ri” como poucas vezes os ouvidos – e o cérebro – e a semântica reivindicaram.
Ao desfecho de Another World, segue-se a britpop de contrabaixo ruidoso Dissolve, que irá se chocar de frente com a muralha bate-estaca da robótica Horse Power. É uma construção previsível visto que eles já usaram esta fórmula outras vezes . Mas o mergulho adiado de Dissolve se dará de vez no balanço da ultra charmosa Swoon, uma festa pura com sua ousada palavra de ordem “just remember to fall in love, there´s nothing else” (apenas lembre-se de se apaixonar , e nada mais ), cujo ritmo lembra a obrigatória Wanna Be Startin’ Somethin’ de Michael Jackson (Thriller , 1982).
Se, portanto , alguém opina que toda música variegada nada significa para ele , que só consegue fruir música dançante ou canção para cítara , isso é justamente carência de formação (Schopenhauer, Metafísica do Belo ).
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