Cada vez que os campos e as florestas se tocam, sem que o campo fique totalmente rodeado de florestas, como acontece nas regiões arborizadas, o coração fica marcado de forma singular por essa dupla impressão. De um lado, a paisagem aberta enche o coração de ideias risonhas, enquanto do outro lado, como em último plano, a vista da floresta anuncia uma natureza mais austera e mais impenetrável. As duas impressões se mesclam, porém de tal forma que a tonalidade mais clara da paisagem aberta onde se passeia domina, nas impressões da alma, aquela, mais profunda, da floresta mais afastada. Numa região arborizada, a situação se inverte; é por isso que os que vivem nela têm, pela própria tonalidade da natureza que os rodeia, uma maior propensão à melancolia.
Schelle, Karl Gottlob. A Arte de Passear. São Paulo: Martins Fontes, 2001. Pág. 98.