quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Die heat

for Vallery

iremos morrer

pela última vez nesse frio e nesse vento

iremos morrer

abraçados

ouvindo o ranger de portões de madeira, galhos secos e

folhas sob a chuva.


morreremos

mais uma vez sob a nuvem densa

o badalar preguiçoso dos sinos

o barbante dos carretéis e as pipas perdidas


no teu abraço somente reconheço o agasalho

longe do abandono das mesas frias

das praças e os troncos gélidos do domingo à tarde


por mais uma vez

morreremos, quietos na tarde

na densidão da tarde.

Brand new pain


As novas dores
o dia jogado ao corpo

e fere

andou léguas
mergulhou ao fundo
escalou até o limite

e no final

estava

um estranho sem mundo

sábado, 18 de dezembro de 2010

1 Coríntios 4:21

"Que quereis? Irei ter convosco com vara ou com amor e espírito de mansidão?"

Evasão - Two


O agito das mãos estendidas no
azul neon da plateia de Tiesto,
a Vontade, em Schopenhauer

De que vontade subsiste o mar...

A comemoração das torcidas e sua glória,

a volta de Cristo.

o céu, oceano aberto.
de que tipo de fome falamos,
e quem é seu dono...

viver é fuga de útero.

True blue








O sol nada escondeu
Pois que as poças d’água secaram
onde quer que estivessem

Eram quase oito horas da noite
as luzes dos postes dos novos bairros entre pastagens
eram de um tom abóbora

e muito calmo

Sábado de horário de verão
nenhuma mentira
Pétalas de luz
Pequenos lírios e suas pétalas de luz.

Platão e a expulsão do poeta em A República



A expulsão do poeta da cidade perfeita, narrada no Livro III de A República e, mais intensamente no Livro X, teria a finalidade de afastar o cidadão das más influências, de conhecimentos que não iriam formar a pessoa para cumprir seu papel na pólis grega. Os poetas, naquele período, tinham grande apelo popular, e sintetizavam aspirações populares, como riqueza, poder, luxo. Um exemplo, seria a guerra de Tróia, em que o interesse pessoal de um indivíduo compromete toda a harmonia da cidade. Nesse caso, o rapto de Helena, empreendido por Páris, apenas por motivos passionais.

Atualmente, seria o mesmo que expulsar a Rede Globo – e canais abertos afins – da sociedade, pois ela não cumpre um papel educador, mas de banalização de valores e da valorização dos bens de consumo, que a mantém – como os poetas, que recebiam por suas narrativas, coniventes com as necessidades populares.

Mas nem tudo é condenação do poeta. Afinal, ele será glorificado por Heidegger como aquele que será capaz de apreender a essência do mundo.

Em Aristóteles, a arte é um meio termo entre a Verdade e o Entretenimento. Ela tem um fim terapêutico. Produz a cessação dos conflitos, a Catarse, e não a Verdade. Essa Catarse é proporcionada pela identificação do espectador com o personagem, que corresponde aos dilemas e prazeres experimentados por todos. Essa correspondência é a característica da Mimesis, imitação empreendida pelo artista.